Sunday, April 23, 2006

A BRUXA MÁ

O Primogénito

A história de Neochips o primogénito teve início em Janeiro de 2005 e surgiu após uma overdose de leituras de romances de ficção cientifica. Na altura tive a visão da sala da morgue e da possibilidade de uma história que começasse com um corpo. Um corpo porquê? Talvez porque os corpos continuam a falar mesmo depois de mortos, talvez porque necessitasse de algo que desse um aspecto obscuro, enigmático à história e assim prendesse o leitor ao “corpo”.
Publico agora o primeiro capítulo com alguma curiosidade e espero poder acelerar a revisão dos rascunhos e, ao mesmo tempo, terminar a história que continua ela própria mutante e com várias opções em aberto.
CAPÍTULO I
O CORPO


Eram 8 da noite quando o doutor Romeu Matias se preparava para fazer a sua última autópsia. Abriu a gaveta, onde se encontrava um soldado morto, e pôs-se a verificar a tela óbito do cadáver quando um som lhe chamou a atenção. O som, um zumbido mecânico tipo hélice, parecia vir do corpo do soldado. O doutor Matias coçava a sua careca quando um alto começou a surgir na testa do corpo, crescia como um furúnculo preto sobre a testa branca, os olhos piscaram e o médico pareceu por momentos reflectir a cor pálida do soldado. Fechou com uma rapidez incrível a gaveta e suspirou ao mesmo tempo que limpava a testa cheia de suor. Já não era a primeira vez que apareciam soldados mortos com comportamentos estranhos e após 25 anos a realizar autópsias para o exército já nada deveria espantá-lo mas isto era algo novo algo de inédito. Havia sem dúvida um organismo estranho naquele cadáver só não se sabia se era totalmente biológico. Virou-se para Julieta, que voava freneticamente em círculos e disse-lhe:

- Reparaste nisto? – Perguntou.
- Sim chefe. Verdadeiramente perturbador! Captei umas interferências mas foi tudo muito breve. – Respondeu Julieta, a sua esfera enfermeira.

- Trata de enviar o vídeo ao director Kesman, mas apenas deste corpo e podes acrescentar em ficheiro de texto o registo do soldado... – Olhou para a tela óbito e acrescentou : - Pelam Russolevesky. - Julieta girou sobre si própria. Matias viu a sua cara na esfera metálica e inclinou a sua cabeça fazendo uma careta.

– Operação concluída chefe.- Cantou Julieta.

- Trata agora de pôr o jantar a aquecer que vamos para casa.- Anunciou. A esfera girou em espiral subindo até ao tecto e desceu como uma águia em voou picado, assobiou e disse :

- Que bom chefe estou ansiosa para ver essa sua nova colecção de filmes que comprou na feira das relíquias. Adoro ver o passado quando os meus primeiros parentes foram construídos. Quer que lhe prepare o sistema vídeo? Pergunto-lhe isto porque são filmes tão esquecidos e de apresentação tão anacrónica ... – nesse momento Matias sorriu para Julieta o que fez com que ela interrompesse a sua mensagem. – Disse algo errado? – Tentou lembrar-se ironizando a sua pergunta percorrendo o ar como se fosse um ponto de interrogação e emitindo um “hummm”.

- Claro que não – replicou o médico –, nunca o fazes! As tuas peneiras é que me dão vontade de rir. Não são os teus “primeiros parentes” que queres ver mas sim que tipo de informação contêm as cassetes bolita insaciável! Bem vamos lá então falar com o director e depois quando formos para casa vou te falar de pintura e podes crer que vale a pena ficares assim tão contente – neste momento Julieta estava quietíssima parada no ar e fazia lembrar a Matias um polvo. Mudava de cores, e aparentemente de textura, a cada segundo e cada vez mais rápido.

- Fico sempre se poder ficar no meu modo Livre e escutar as suas sábias palavras! – “só o chefe o podia fazer” percebia-se no fogo de artifício que agora ostentava. Julieta deveria ser, pelo menos assim gostava de pensar porque não era verdade, a esfera enfermeira, e mesmo no grupo de todas as esferas, que mais horas passava no modo Livre. Estavam juntos há 15 anos apesar dela ter mudado três vezes de esfera e, às vezes, até gracejar do alto da sua modéstia dizendo que já vivera três vidas! Tinha agora 12 centímetros de diâmetro e sabia que só poderia inchar mais três que era o máximo permitido por lei para uma esfera enfermeira da sua categoria. Todas as esferas quanto mais horas passavam no modo livre mais precisavam de espaço para armazenar a chamada informação não programável livre sobre ética e conceitos abstractos que era algo impossível de programar verdadeiramente não indo mais além do “ agradar o seu chefe em tudo “ ou “ amor é ajudar o chefe nas sua tarefas”. Mas estar no modo Livre era agora um misto de alegria e nostalgia. Curiosamente tinha aprendido o conceito de nostalgia na sua “segunda vida” quando descobrira que a sua nova esfera era esverdeada tipo esmeralda e unicolor o que a fazia desesperar berrando: - “apesar de ser mais crescida e sábia, esteticamente sou um berlinde, um abafador!”. Agora que a sua forma final se apresentava cada vez mais próxima era mais selecta no que poderia aprender.

Enquanto despia a sua bata branca e a colocava no seu cacife Romeu ouviu Julieta dizer:

- Chefe acabo de receber uma mensagem do director que diz: “- Venha imediatamente e não fale do incidente a ninguém. O mono-elevador 34 está-lhe reservado.”

O médico arqueou as suas sobranceiras e notou-se um ar preocupado na sua voz quando disse o comando que fechava o cacife. Saíram da sala fria. Lá fora dois soldados aguardavam à porta. Olhou para ambos um pouco espantado e cumprimentou-os levantando o braço um pouco desajeitadamente.

- Boa noite Doutor Matias – respondeu um dos soldados, o mais baixo e pelos vistos mais bem disposto, ao mesmo tempo que fazia a saudação da Nova Vida um dos rituais do poder, levantando o braço direito, num gesto que parecia estar a empurrar algum fantasma, virando a palma da mão para o médico mostrando o sinal preto no centro da mão. O outro nada disse limitando-se a empurrar o ar. – Temos ordens para o acompanhar até ao ME34 e de guardar a morgue. – O soldado que não falara ficara a selar a porta e momentos depois Romeu caminhava na companhia do sargento loiro que marchava a seu lado preenchendo o silêncio do corredor com o som das sua botas, o outro, mais alto e forte e de patente mais baixa, ficara para trás de vigilância à morgue.

Enquanto caminhava na companhia do soldado o médico escutava apenas os seus pensamentos. O director tinha lhe reservado um elevador pessoal para si assim que recebera o relatório – o que não era normal. Significaria que o caso era sério? O director não lhe dava a mínima chance de se poder encontrar com alguém. Às tantas teria que ficar de plantão e, pior ainda, voltar a ver aquela bolha negra viva no corpo inerte. Contraiu o semblante baixou os olhos e por momentos pensou em dizer a Julieta para anular as tarefas domésticas que lhe tinha ordenado.

Quando se aproximaram do ME34 o sargento disse:

- Terá que pôr a sua esfera no modo Inerte. Vai estar fora da sua área de funções e como sabe...questões de segurança. – O médico anui em sinal de entendimento e estendendo a mão em forma de concha deixou que Julieta pousasse nela de modo a poder desligá-la. Ela ficou toda escura mostrando o seu desagrado, detestava ser desligada e “ficar na ignorância” como dizia. A nano-chave no anel do médico brilhou ao entrar no interruptor e Julieta transformou-se numa esfera metálica fria e sem vida. Colocou-a no bolso do seu casaco e entrou no ME34.

Quando chegou ao 13º andar um outro soldado já o esperava. Cumprimentaram-se e rapidamente Matias foi encaminhado ao gabinete do Sr. Kesman.

Na sala uma imagem holográfica estava a ser projectada numa cadeira de recepção, Matias não conseguiu ver quem era pois ela estava de costas para si .O Sr. Kesman interrompeu o que estava a dizer quando o viu entrar. A sala estava mobilada ao gosto Nova Vida. Era relativamente grande e tinha duas janelas de aproximadamente 10 metros cada, tanto em largura como em altura, uma atrás da mesa de Kesman e outra à sua direita. A que estava de frente dava para a baixa da cidade no entanto Romeu estava muito distante para a poder ver, via apenas outros edifícios de janelas monstruosas e ao fundo junto ao porto a catedral de tela vidro. Da janela da direita conseguia-se ver o lago da vida artificial com as estátuas de mármore gigantes dos falecidos grandes líderes do partido Nova Vida bem como as suas esferas 1º ministro em gravidade perpétua mas já mortas por cima das suas cabeças. Á sua esquerda a parede branca era preenchida, na parte inferior, por telas receptoras e na parte superior, em prateleiras de platina pura, por vários tipos de objectos artísticos desde telas imaginativas com todo o tipo de temas; esferas gigantes com representações de buracos negros ou super novas; máquinas de inteligência artificial limitada produzidas por artistas engenheiros de renome.

Matias cumprimentou o director Kesman levantando a mão, desta vez com mais convicção!

- Meu caro doutor Matias como tem passado.- disse Kesman,- pedi-lhe que cá viesse porque os ficheiros que me enviou são de uma gravidade extrema. Como sabe o partido, a luz que nos guia na direcção do progresso, tem inimigos poderosos capazes de tentar abalar os fortes alicerces da nossa sociedade vanguardista e pôr em risco décadas de evolução social. O que viu – Kesman juntou as sobranceiras com ar grave de cumplicidade - não é a primeira vez que acontece mas desta vez o bicho está preso.- sorriu. - Como deve calcular o ministro da defesa, com quem falei há pouco, deu-me ordens directas para o obrigar a assinar um documento em que se comprometerá ao sigilo absoluto, sob pena de prisão perpétua, - levantando os ombros - em relação – fez um gesto com a mão apontando para baixo - ao sucedido. Para si hoje foi um dia normal em que realizou autópsias de rotina. Nada mais! Percebeu? Infelizmente – continuou -, temos que apreender a sua esfera enfermeira mas não se preocupe que será recompensado pela perda com uma esfera de 7º nível à sua escolha. O partido recompensa os corajosos! – Kesman dissera esta última parte sem olhar para os olhos de Matias e andando de um lado para outro. Este estava sem palavras, olhava para a esfera burocrática de Kesman que tinha à volta de 30 centímetros de diâmetro e parecia uma bola de cristal. Voltou a cabeça para a direita e fixou as esferas 1º ministro. Não queria acreditar, não queria chorar. Queria ir para casa com Julieta a seu lado e acabar a noite a discutir um conceito novo qualquer. Compreender as suas limitações , conceitos de beleza e juízos de valor independentes. Não queria ficar só e também não queria uma esfera nova fosse qual fosse o seu nível, ele próprio era limitado. O que poderia dizer a um monstro desses de sétimo nível! Kesman falou:

- Meu caro doutor vai ser condecorado como herói mundial, terá uma reforma bem remunerada e poderá , homem escute, escolher uma esfera de nível sete! Mais o partido não pode fazer. – juntou as mãos e olhou rapidamente para Matias que continuava a olhar para lá do lago artificial. Dirigiu-se à sua mesa pegou numa tela contracto e estendeu-a ao médico.

- Não poderemos simplesmente apagar os últimos registos? Destrui-la assim sem mais nem menos? – Romeu fitava o lago onde as estrelas eram reflectidas pelo metal tela da sua superfície. – Há 15 anos que convivemos posso controlá-la – atalhou – além do mais ela só pode falar com terceiros através da minha autorização ... porquê então. – Os olhos do doutor estavam agora húmidos, não sabia o que dizer não compreendia o que se estava a passar.

- Meu caro amigo!- interrompeu o director. - Felizmente que temos o partido para nos ajudar nas situações difíceis! Existem coisas que nós não podemos perceber pois não estamos dentro do assunto, estão para lá da nossa compreensão. Os inimigos estão à espreita, ou você acha que o partido lhe pediria isto caso não fosse necessário para o bem geral! O partido zela por nós e, como já lhe disse, será recompensado. – Kesman elevara a sua voz ao terminar,deliberar a sua sentença e estendera as mãos na direcção de Matias uma com a tela contracto, a outra aberta em concha. Ele retraiu-se um pouco e pressentiu Julieta a pulsar no seu bolso. Pensou em activa-la e lança-la em direcção a uma das janelas, em direcção à liberdade à vida. Mas o que seria a vida dela sem ele... e a dele sem ela?

- Quanto tempo posso estar ainda com ela? – perguntou olhando nos olhos o director.

- Nenhum, terá que a deixar aqui comigo. – declarou Kesman fugindo ao olhar clemente do outro, – Será destruída imediatamente. – concluiu secamente.

O seu corpo estremeceu, sentiu a cabeça latejar. Romeu sabia que a esfera burocrática do director sabia tanto ou mais que Julieta mas a essa nada iria acontecer. Mas nem se importou com isso já sabia que ouviria uma série de verdades absolutas e irrefutáveis acerca da idoneidade das decisões da Nova Vida! As suas mãos tremiam-lhe e ele não sabia o que fazer com elas. Não havia uma razão lógica para aquilo. Como poderia Julieta ameaçar o partido?
Poderia o furúnculo ter enviado uma mensagem para ela sem ela própria saber e assim ser uma portadora de informação secreta perigosa para eles? Nenhuma dessas questões lhe parecia plausível. As mãos do director continuavam estendidas e ele sem reacção. Decidiu que não largaria mão dela por nada deste ou de qualquer outro mundo.

- O que me pede vai muito para além do razoável! Não me importo de assinar essa tela e prescindir de qualquer tipo de recompensa mas o que me pede em relação á minha esfera isso é que não posso fazer! E se me o obrigar recorrerei aos tribunais. A lei é muito clara, a propriedade mista requer um acordo entre as partes proprietárias. – Matias sentiu-se um pouco melhor, tinha lhe feito frente e defendido a sua Julieta mas a face do director mostrava como era infrutífero este argumento. Em termos práticos era um desastre e ele sabia-o contudo teria que tentar.

- O senhor... – replicou Kesman - sabe que posso apreende-la a qualquer momento bastar-me-ia chamar o segurança. Tem razão quanto à lei, talvez daqui a uns cinco anos recebesse uma indemnização porém, teria o partido contra si e nunca mais arranjaria emprego, não teria uma nova vida! – Rematou com um sorriso e de braços abertos. – Tenha calma todos nós sabemos o que é perder uma companhia, um amigo. Afeiçoamo-nos a elas, somos nós que lhe damos os valores mais próximos do homem, que as educamos, são como filhos. Mas não me diga – olhando-o de alto a baixo -, que perder uma esfera, por mais próxima que seja, é pior que perder o partido, a vida!

Romeu recusou-se a responder sabia que não havia mais nada a dizer ou a fazer. Com as lágrimas a correrem-lhe pelas faces levou a mão ao bolso segurou em Julieta como se fosse o objecto mais frágil do universo e olhou para a garra que se estendia à sua frente. Fechou os olhos e pousou-a como que de um ovo se trata-se. Pegou na tela assinou e saiu sem nada acrescentar. Ao passar pela porta ainda ouviu voz da serpente a arrastar-se:
- Vai ver que tomou a melhor opção e que o partido o ...
Pepa

ANTI BARBIE
















"GÉNIO DO MAL e MARIA PETROPOLIS", tinta e verniz em Madeira
Artesão : Paulo Bento

Sunday, January 15, 2006

Jardinar

Sem Título ou Malha na confusão


Friday, January 06, 2006

O Jogo do Xadrez
DESPORTO ARTE CIÊNCIA


Extraído de um manuscrito árabe de 1257
Jogam as negras e ganham as brancas!

Do século XIII até hoje ainda não se descobriu qualquer posição mais instrutiva para esclarecer o que se passa num final de torre e rei contra cavalo e rei!


A criatividade humana !















"Medusa", mealheiro em papel reciclado
Artesãos : Ana Cadete, Paulo Bento

Thursday, January 05, 2006

Ho deuses, dêem-me o silêncio
exilem-me da prometida felicidade,
mergulhem-me num lago de dor
para sempre submerso
diluindo-me em mim mesmo
em busca da eterna solidão...

Ser mais escuro que o universo!
Mais frio que o aço!
Mais triste que o fado!
Mais só que a estrela!

Que os corvos cantem a canção da minha vida,
que os abutres a dancem
que o mundo me esqueça
que o inferno me receba!

NeoChips chorando a desactivação de NeoChips 2 na mitologia ciborg, robótica, e, mais tarde, pós humana ou mutante.

Extracto de “ O Primogénito” de Pepa
PRESIDENCIAIS! Diferenças?



"Golconde" 1953

Wednesday, January 04, 2006

I Want To Believe



As derradeiras palavras transmitidas pela Ecúmena Silenciosa diziam ( de acordo com os esforços dos tradutores) o seguinte:
TODAS AS PALAVRAS SÃO FALSAS. TODO O DISCURSO É IRRACIONAL. AQUILO QUE AGORA DIZEMOS APENAS MOSTRA O QUÃO MAIS FORTES SOMOS DO QUE A SANIDADE.
OBSERVAI: O ESFORÇO RACIONAL TERMINA EM FUTILIDADE COM O FIM DOS TEMPOS, OU DILUI-SE NA FÚTIL ETERNIDADE SE O TEMPO AO FIM NÃO CHEGAR. ASSIM, CONCLUÍ: O ESFORÇO RACIONAL EXIGE QUE AS CONDIÇÕES BÁSICAS E INALTERÁVEIS DA REALIDADE SEJAM ALTERADAS. CONTUDO, ISTO É IRRACIONAL.


Depois houve uma quebra no texto. Um segundo grupo de dados, quando a transmissão foi retomada, dizia:


A SANIDADE É A SUBMISSÃO À REALIDADE. A LIBERDADE É INCOMPATIVEL COM A SUBMISSÃO. ASSIM, A LIBERDADE EXIGE INSANIDADE. ESTA LIBERDADE SERÁ IMPOSTA.
A FIM DE CONDUZIR A UMA LIVRE ACEITAÇAO DESTA PROPOSIÇÃO, ASSIM SE PROVA:


0/0 Zero dividido por nada
ºº/ºº Infinito dividido por infinito
0xºº Zero multiplicado por infinito
1ºº Unidade elevada à potência infinita
0º Zero elevado à potência nula
ºº0 Infinito elevado à potência nula
ºº - ºº Infinito menos infinito


SAIBAM QUE É INSANO AFIRMAR QUE NÃO EXISTE UNIDADE, NEM ZERO, NEM INFINITO; É IRRACIOANL AFIRMAR QUE AS OPERAÇÕES MATEMÁTICAS RACIONAIS SE TORNAM IRRACIONAIS QUANDO APLICADAS A ESTES VALORES; È IRRACIONAL AFIRMAR A RACIONALIDADE DO INDETERMINADO. NO ENTANTO, ASSIM É A REALIDADE.


Um terceiro, e último, grupo transmitido dizia:

A SANIDADE É A SUBMISSÃO À REALIDADE. A REALIDADE É IMPERFEITA. A SUBMISSÃO À IMPERFEIÇÃO É INSANA. NÓS NÃO NOS SUBMETEMOS A VÓS. RECUSAMO-NOS A SUPORTAR UMA REALIDADE QUE VOS FAVORECE.
A teoria académica prevalecente dizia que a palavra traduzida por “sanidade” abarcava os sentidos “bondade moral”, “integridade autoconsistente” esuperioridade intelectual”.


Extracto de “A Fénix Exultante “ de John C. Wright.
A Equação
Era uma vez uma letra e um número que se tinham conhecido numa folha de rascunho , no meio de uma equação qualquer, entre milhares de outras letras e outros números. O lápis tinha-os posto juntos e assim se conheceram. Davam-se tão bem que não se apercebiam que andavam alheados da equação. Sem darem conta saíam do seu lugar para se isolarem dentro de dois parêntesis, sozinhos, sem sinais ou outros números ou letras a separá-los ! Outras vezes uniam-se entre chavetas formando um conjunto! Tudo corria bem falavam muito, sobre muitas coisas e foi preciso passar algum tempo para que as suas diferentes naturezas se começassem a manifestar. A letra tinha começado a gostar do número e o número da letra e apesar de nenhum deles acreditar em axiomas ou teorias universais pensavam ser assim o que o outro pensava. A letra começou a querer conversar e o número a querer conversar e beijar. O problema era que ela gostava de falar, não só pela sua natureza mas também porque tinha medo de beijar o número, ele pelo contrário tinha medo de conversar demais e de nunca a beijar. No fundo queria apenas conhecê-la de outra maneira. Como número gostava de derivadas e de tangentes! Ela com medo de deixar de ser letra recusava-se acentuando-se com acentos graves. Ele ficava negativo deixava de falar , virava conjunto vazio, criava fracções para a evitar, punha sinais de diferente entre eles. Mas o número nunca quis que ela deixasse de ser letra porque ele próprio não queria deixar de ser algarismo! E sem o assumirem continuavam a baralhar a equação. Criavam várias situações complicadas nas diferentes folhas do rascunho , em algumas delas nem se viam e, no fim, já só se olhavam cada um na sua margem sem se falarem.Como a equação não tinha solução a mão, já cansada do lápis, pegou nas folhas amachucou-as e deitou-as para o lixo. Por distracção uma tinha ficado em cima da mesa e a mão fez dela um avião de papel que atirou pela janela. A letra e o número olhavam-se cada um numa asa diferente interrogando-se e tal era o seu desejo de falarem que quase se soltavam do avião de papel. Voavam à vontade do vento procurando mesmo assim uma alternativa trocando de lugar com outros números para tentarem redescobrir-se. Mas era tarde demais, tinha começado a chover e já alguns números e letras desapareciam. O número e a letra olhavam-se assustados e nesse último olhar ambos questionavam a mesma coisa. Como foi pena não terem estado, uma só vez, só os dois, numa folha de papel branco na horizontal fundindo-se num circulo, dependentes e independentes, ela 'O' ele ' 0 ' ... e enquanto o tempo se demorava a chorar e todos se diluiam lentamente numa mancha azul o número continuava a desejar... um beijo!
Pepa
Les Amants


DESEJO

Tenho os meus olhos nos teus
São os mais bonitos que já vi
Os teus não me vêem
Os meus são os que te esperam

Pepa